domingo, 8 de janeiro de 2012

Mudança

   Era uma área bem arborizada, um terreno grande, uma casa velha. Jardins se estendendo até onde começavam as árvores altas. Uma piscina grande, azul, rasa, atrás de uma fonte envelhecida e suja, que já não tinha mais água jorrando. Claro que é no mínimo diferente uma casa tão grande com paredes externas tão escuras, quase pretas. Mas uma cor preta meio marrom, meio avermelhada, uma cor... Sombria. Uma casa com torres, com janelas quebradas, mas ainda assim parecendo à casa perfeita para que nós morássemos. Por algum motivo, me lembrava um cemitério tudo aquilo, tinha um clima pesado, alguma coisa que me trazia pensamentos também sombrios.
    Éramos as três mulheres, após a separação. Eu também não entendia o motivo de só usarmos roupas mais “elegantes” e pretas, sempre arrumadas, como se fôssemos para algum enterro, de fato. E eu me perguntava também por que a minha mãe tinha decidido morar naquele lugar, da onde surgiu a idéia? Da onde surgiu o dinheiro (eu imaginava que um lugar daqueles devia ter custado uma fortuna)? Mas já não importava mais o que eu pensava, ia morar ali e ponto final.
     Meu pai? Meu pai morava na entrada da casa, só se chegava aos jardins por ali. Mas era diferente. Ele, também, estava diferente. Na casa que na verdade era apenas uma garagem tudo era iluminado pela luz do sol (que eu não sabia da onde vinha), branco, limpo. É claro que havia um carro, também branco, antigo, muitíssimo bem cuidado, brilhante.
Eu andava em direção ao meu pai desde a entrada da garagem olhando aquele carro, reparando em cada detalhe daquele lugar. Reparei que ele usava roupas brancas, e estava sentado com uma perna meio cruzada lendo jornal, e a única coisa que se ouvia eram meus passos.
    -Oi, pai. O que você está lendo? - Eu perguntava, tentava falar com ele, mas não tinha resposta. Ele só abaixava a folha de jornal, não tinha expressão, mas olhava nos meus olhos profundamente como se estivesse tentando se comunicar.
    Desisti de tentar uma conversa e decidi ir até a minha nova casa arranjar algo para fazer, senti que enquanto caminhava até o jardim, meu pai me acompanhava com os olhos. Subi as escadas até a entrada principal, onde havia duas estátuas de leões, uma de cada lado, pretas, é claro. Entrei na casa por aquela porta pesada, e comecei a chamar pela minha mãe. Ela logo veio, e disse que a minha irmã estava chegando pra conhecer a casa nova. Encontramos com ela no jardim, e de repente eu me encontrava animadíssima para mostrar-lhe a casa inteira. Vi a cara dela ao ver aquele prédio antigo e escuro, e ela não foi de entusiasmo.
     Ao entrar, dávamos direto na sala de estar, que era grande, com decoração também antiga, mas não tão antiga quando a própria construção. Tudo era decorado parecendo com algo congelado na década de 1960/70, com uma pitada de lugar empoeirado. Não entrei na cozinha nem na sala de jantar, mas o que consegui ver mesmo longe até das portas, me dizia a mesma coisa. Interessante era como eu via a construção por fora e por dentro, o prédio definitivamente não era igual.
    Decidimos subir para ver os quartos. A escada era toda madeira escura, corrimãos lustrosos e degraus que rangiam. Chegando ao primeiro andar, não havia corredores nem portas, nem paredes. Era um andar aberto onde se viam todos os móveis separados em cantos diferentes.
    -E estes são os quartos! - disse a minha mãe, alegre. De novo a cara da minha irmã não foi uma das melhores.
    As coisas nesse andar não eram muito diferentes em termos de cor e clima. A única coisa que mudava era que ali tínhamos carpete, azul claro desbotado com desenhos grandes de flores em marrom. A mobília era de madeira da mesma cor da escada, e as cortinas eram bem mais claras. Eu ainda não me sentia bem naquele lugar, sendo no interior ou nos jardins. Aquilo ainda não me parecia uma boa idéia, pois havia algo naquele lugar que me deixava com o estômago revirado, e eu descobri a razão assim que ouvimos um barulho vindo da escada e viramos todas juntas para olhar.

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