terça-feira, 11 de outubro de 2011

Procura-se Estômago

   Estômago, pra se ver pegando maçãs verdes brilhates na geladeira, e perceber que na verdade estão espumando de podres, mofadas e cheias de larvas e outros insetos rastejando-se nelas.
   Estômago, pra se ver em uma boate, passando por um corredor escuro e entrando em uma sala mal iluminada com um monte de drogados cheirando carreiras de cocaína quando alguém grita "Quem quiser cheirar, a hora é agora!"

   Preciso ter estômago, pra ter uma mente como a minha.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

É Sempre Igual

    É sempre uma escada, uma janela, um degrau. É sempre um precipício, um vôo que não dá certo, que seja. Sempre é um escorrego, um tropeço, um desequilíbrio que me faz cair. Sempre, sempre nessa maldita hora, sempre quando vou bater a cara no chão, me machucar, sentir dor, é quando eu acordo. Nunca consigo ver o resultado de ser desastrada. É um susto, um pulo, um tremor que me faz acordar assustada, sem conseguir pensar direito no que aconteceu. Mas é sempre um alívio saber que o precipício não era real.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Não Voltarei Para Casa Desta Vez

    Voltando da escola, ela pensava apenas em chegar em casa, e a pé a subida era longa. Dava passos longos, mas era como se nem se mexesse, e mesmo tendo andado pouco desde a escola, já estava cansada, pois sua mochila pesava. A rua estava vazia. Foi  quando sentiu o peso de uma mão em seu ombro, e quando se virou, não deu tempo de reagir: ele a jogou no chão, e suas mãos passaram do ombro ao seu pescoço, enquanto ele dizia:
    – Se não pode ser minha, não pode ser de mais ninguém.
   E seu rosto se enchia de raiva, de medo e de pena ao mesmo tempo. Ela não conseguia se soltar, ele era forte. Enquanto ela perdia os sentidos, mal podia ver o rosto dele, pois estava tudo ficando embaçado e escuro. Foi tudo muito rápido, e não teve ar suficiente para poder soltar nem apenas um grito.
   Depois de se ver naquela situação, a escuridão passou e ela estava em pé em frente a sua casa. Mas estava diferente, não estava mais presa ao seu casulo, era apenas a energia que tinha sobrado de seu corpo. Entrou em sua casa, passando pelas portas e paredes, e encontrou sua mãe, arrumando coisas na sala.
   – Mãe... Eu acho que eu morri.
   – Como assim? Você está louca? Eu estou te vendo na minha frente.
   – Mãe, aceite. Eu vim pra me despedir e te dizer que eu estou bem agora.
   – Me explique isso.
   – Eu fui estrangulada. Não consegui ver direito o rosto dele.

   – Mas...
   – Mãe, é tudo o que eu sei. Diz pra mana e pro papai o que aconteceu. Eu vou sentir saudades, mas não fiquem se preocupando comigo.
   – Tudo bem...

   – Bem... Então adeus mãe. Vim pra te avisar que não volto para casa desta vez.
   – Adeus. – e sua mãe começou a chorar, enquanto ela saía em direção à rua.
   Na casa de uma amiga, onde estavam mais três, ela foi se despedir de todas elas, e chegando lá as quatro estavam sentadas na calçada conversando.  
   – Você tá diferente... O que aconteceu? – disse uma delas, com cara de preocupação.
   A garota contou, e elas começaram a chorar.
   – Mas não pode ser! Você não pode simplesmente sair das nossas vidas! – disse outra, desesperada.
   – Foi a mesma coisa que a minha mãe me disse, mas aconteceu. Não tem mais volta. Vim me despedir, e era isso que eu temia... Ficarei com saudades.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Labirinto Claro

    Corredores infinitos, luz do Sol, mas nada de janelas. Onde está a saída? Não acaba mais, um labirinto. Socorro! Gente que grita meu nome. Olho para trás, onde estão eles? Somem. Tudo branco, girando, rodando. Corro, ando, não acho o fim disso, me canso, e sento. Não consigo pensar em nada, só em como eu parei ali. Lugar horrível e estranho.
   Vejo uma porta, abro. Vejo uma parede.


sábado, 15 de janeiro de 2011

Incomum

   Aquele barrigão até incomodava, de tão grande. Via-se numa situação difícil, ter um filho e ser tão jovem. Chegava à escola, e via todas as outras meninas da sua idade na mesma situação. Ela não lembrava nem como isso tinha acontecido, e começou a conversar com as outras sobre o assunto.
   – Eu mal me lembro como aconteceu, já faz tanto tempo! – e ria para tentar afastar a cara de preocupada.
   Não dá nem pra acreditar que nós estamos assim. E fomos acompanhadas desde o começo. Eu me pergunto se é menino ou menina. Espero que seja menino.
   Ela já começava a ficar desesperada, e procurava respostas em todas as meninas. Nem mesmo as suas melhores amigas entendiam que ela realmente não sabia o que estava acontecendo. Chegou então uma hora que ela já não agüentava mais, e então teve que finalmente admitir a uma delas o que estava acontecendo.
   – Chega! Diga-me como isso aconteceu... Como todas nós ficamos grávidas ao mesmo tempo? Por favor, eu juro que não me lembro! – gritava desesperada.
   – Bobinha... Você não lembra que foi um plano do nosso governo? Todas as meninas de 13 a 16 anos, grávidas. Simples assim... Bem, nem tanto, afinal só pudemos participar depois de uma tonelada de exames. O que mais você não lembra? – falava calmamente, como se fosse uma coisa totalmente comum.
   – Nada... É... É só isso...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Untitled

   Estavam num quarto um pouco escuro, de criança. Apenas um abajur com a luz azulada estava aceso. Ele estava sentado com a perna meio cruzada, numa poltrona grande e clara, e ela carregava a menina que mal tinha chegado ao mundo. Prendeu seu cabelo, mexeu no berço, no trocador e nas roupinhas que mais pareciam de boneca de tão pequenas. Estava séria, concentrada no que fazia. Ele ria, parecia se divertir com a situação toda, que não tinha nada de engraçado.
   – Por que você tá rindo? O que eu fiz? – perguntou ela, não achando nem um pouco de graça.
   – Nada, nada. – e continuava rindo. Levantou-se, caminhou até a porta e encostou-se no batente, e ficou olhando mais de perto. E ria.
   – O quê? Você já está me deixando quase que irritada!
   – Nada! – disse, soltando uma gargalhada alta. E voltou a sentar, sorrindo.


;/

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Butcher’s Cell

   Eu estava lá, sentada numa cela muito suja e muito escura, zonza. Eu estava com calor, pois era quente lá dentro. Dava pra ver que era sangue seco nas paredes misturado com mofo e água escorrendo de algum lugar que eu nem queria procurar. Sentia-me mal, o ar era pesado. Eu não respirava direito. Tudo era tão sujo que eu tinha nojo de ficar sentada e encostada na parede.
   Minhas mãos estavam jogadas no chão e minhas pernas meio dobradas, como se eu tivesse desmaiada até então, ou como se tivesse sido jogada lá. Encolhi-me abraçando os joelhos e foi nessa hora que eu ouvi a tranca da porta de metal enferrujada abrindo, e de lá saiu um homem com braços fortes, com o cabelo na altura do ombro, mas todo sujo, assim como o resto do corpo. Parecia graxa, ou talvez as mesmas coisas da parede daquele lugar. Ele estava com um avental e carregava uma faca de açougueiro, ambos sujos. Ele estava suado e quase ofegava, então agachou na minha frente.
   Disse calmamente:

   – Você, queridinha, vai ser a próxima vítima desta belezinha aqui. Sente-se bem, animada, saudável? – e sorriu como se debochasse de mim.
   – Eu não sei nem quem é você, seu porco.
   – Nossa, mas que afiada! Talvez até mais afiada do que a lâmina que vai te cortar. – e riu de novo.
   Saiu da cela e trancou novamente a porta pesada. Demorou pra voltar, e quando voltou não adiantou lutar.


Obs.: Este sonho foi escrito em primeira pessoa para que cada um se sinta no meu lugar.

Dentro da minha mente

   Era uma sala branca, com mesas, com pequenas “cenas” construídas em caixas abertas em um dos lados e encima. Cada uma delas tinha uma pequena boneca que se mexia, representando uma emoção ou sentimento.
   As quatro em busca de algo dentro daquilo, mas o barulho insistente de uma batida forte e raivosa na porta as atrapalhava e assustava.
   – Vamos, ache logo isso! Nós temos que sair logo daqui! – sua irmã tremia de medo.
   – Como eu vou achar com você me enchendo o saco e me dizendo o que fazer? Deixe-me em paz! – ela tremia de desespero.
   Ela parava e olhava para as cenas e bonequinhas se mexendo, mas quase sentia nojo delas.
   – Eu hein, coisa mais bizarra.
   Aquilo na porta já não era mais apenas um batido raivoso, quase derrubava a porta de tanto bater. O incrível era que ela nem se mexia, só se ouvia o barulho alto que fazia quando a socavam. Apenas a maçaneta prateada girava quando tentavam abrir a porta.
   – Essa coisa também tá me dando muito medo, e isso aqui já é sinistro suficiente! É melhor a gente se apressar, eu não quero ser devorada ou sei lá o que isso que tá atrás da porta vai fazer com a gente! – dizia sua amiga, quase gritando.
   – Que idéia, querer entrar na minha cabeça pra procurar um troço que eu nem sei o que é. É isso que dá, acabam se encontrando com os meus pesadelos!
   Estavam já no fundo da sala, e procuravam em todo lugar. Dentro das “emoções”, no chão, encima das mesas e até no teto, ou pendurado na parede, afinal em algum lugar tinha que estar. O maior barulho vindo da porta foi ouvido, e olharam todas para trás com olhos arregalados e expressão de terror.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Cuidado com os espelhos!

   Mudaria de escola aquele ano, então foi com sua mãe a várias escolas diferentes. Chovia aquela tarde, não era forte, mas garoava o suficiente para formar poças em qualquer tipo de chão em qualquer lugar.
   Aquela escola era diferente. Mais conservadora, de freiras. O uniforme parecia normal, igual o das outras escolas, mas a educação era diferente. Enquanto juntas exploravam o pátio procurando a secretaria ou algum lugar para obter informação, viam que haviam várias escadas que desciam para outros pátios e lá era um lugar alto, de onde se podia ver o resto da cidade, e um pouco mais além. Eram três prédios de salas de aula, ao total. Altos (para um colégio), com mais de cinco andares cada um. Todo o colégio era marrom e bege no interior. Corrimões eram as únicas coisas brancas e podia-se ver que era tudo muito antigo, com pelo menos 60 anos, pelo estilo da decoração interna e externa.
   Mesmo sendo dia, o espaço por dentro dos portões de entrada era muito sombrio. A sensação de estar sendo observada era constante, mas ela achou que era por estar fazendo uma visita em um dia de aula normal.
   – Eu vou à secretaria. É logo ali, não sei como não vimos antes... Mas se você não quiser ir, pode passear pelo pátio enquanto eu resolvo lá as coisas. – disse a mãe.
   – É... Eu não estou com vontade de ir mesmo... Vou explorar. – disse a menina, sorrindo.
   Ficou parada vendo enquanto a mãe se afastava, andando no chão encharcado em direção a uma porta aberta em um dos prédios. Assim que ela entrou, a menina desviou o olhar para cima, para as árvores altas e o topo dos prédios.
   Garoava lentamente, e as minúsculas gotas caíam em seu rosto pálido pelo frio. Começou a andar e olhar qualquer coisa que a distraísse. Quando percebeu, já estava subindo escadas de um dos prédios. Devia ser um dedicado aos pequenos, menores de oito ou dez anos, mas estava completamente vazio, sem alunos e professores, nem inspetores ou nada do tipo. Entrou em uma sala, com mesinhas pequenas e desenhos de animais colados nas paredes, frutas, letras, e tudo típico de um jardim de infância. Ela olhava e lembrava-se de quando era criança. De repente, ouviu um ruído vindo do corredor, um passo no assoalho de madeira escura, ou um peso sobre ele. Olhou para o corredor, e não viu nada. Entrou em outra sala, e ainda nada. Resolveu descer as escadas para ir ver se tinha alguma coisa ou alguém no andar de baixo, afinal não tinha mais como subir. No fim da escada estavam sentados jovens um pouco mais velhos do que ela, eram eles 4 garotos e uma garota. Viram na e começaram a conversar.
   Perguntaram onde ela estudava, onde morava, se iria estudar lá e coisas desse tipo. Foram mudando de assunto conforme falavam daquele colégio, até que chegaram a historia de que aquela escola abrigava espíritos, e que aquela tarde era perfeita para fazer uma “caça” a eles. Então começaram subindo novamente, dessa vez até outra sala que estava trancada. Quando a abriram, ela pôde ver que não haviam janelas, somente uma porta, e as paredes estavam cobertas de espelhos, e algumas cadeiras desorganizadas no centro de um tapete.      
   Um dos garotos então pegou uma cadeira e colocou atrás da porta para que ninguém conseguisse abri-la. Enquanto ele colocava mais uma no meio do tapete, os outros garotos viravam as outras de cabeça para baixo. O grupo sentou-se atrás da cadeira, no chão, e ficaram esperando que a menina sentasse na frente.
   – Mas eu não posso sentar na cadeira? – perguntou ela, não sabendo realmente o que fazer.
   – Não, você deve sentar-se no chão, na frente dela. – disse a outra garota.
   – Mas como funciona? Pra que serve isso?
   – Não faça perguntas. Se quiser participar, então faça o que nós mandarmos.
   Ela sentou-se no chão, não entendendo ainda o porquê de tudo aquilo.
   – Ah, esqueci o seu espelho. – disse um dos garotos, e levantou para colocar um espelho refletindo dos ombros para baixo da menina e apoiado na cadeira.
   – Podemos começar. – disse a garota, dando as mãos ao rapaz ao seu lado.
   Disseram palavras, entoando alguma coisa, chamando. A menina não tirava os olhos do espelho a sua frente e olhava para os outros nas paredes, e as luzes piscavam. Olhou novamente para o seu, e não via mais o seu próprio reflexo, e sim pés com sangue, mas como se a pessoa que os possuísse estivesse levitando. Podia-se ver uma barra de vestido branco, sujo e velho. Pingavam no tapete, mas apenas no reflexo.
   – Meu Deus! Dêem uma olhada nisso, vocês têm que ver! São... São pés! E pinga muito sangue, escorre... Por que eu não estou nesse reflexo? Como é isso? – gritava a menina, assustada.
   – Funcionou?! – disse um dos rapazes, espantado. – Não acredito! Funcionou mesmo? É a primeira vez que realmente conseguimos alguma coisa!

   – Vocês tinham me dito que já sabiam, que... Que já tinham visto! Não acredito que fui uma experiência! – neste momento, não era só ela quem estava assustada e quase surtando de medo, mas sim todos naquele cômodo.
   Num momento de silêncio deles, ouviram o gemido da coisa de dentro do espelho. Assim que trocaram olhares de medo, a garota do grupo foi a primeira a se levantar e falar, quase chorando:
   – Derrube esse espelho, quebre-o! Eu não quero mais saber dessas coisas toscas! Abram logo essa porta e me deixem sair! Rápido!
   Um dos rapazes puxou a cadeira para trás e o espelho caiu. A menina levantou-se , assim como os outros rapazes, e eles abriram a porta, saíram rápido e trancaram a sala.
   – Nunca mais volto aqui para isso! – gritou a garota, e desceu correndo as escadas. Os garotos foram atrás, e a menina ficou no topo com medo de descer. Respirou fundo e desceu o primeiro degrau. O segundo, e assim foi, a escadaria era grande até o térreo.    
   Lembrou do medo, e assim tomou coragem – queria encontrar sua mãe para sentir segurança – e desceu rapidamente as escadas. Descia rápido. Mas foi necessário somente um passo em falso.