segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Cuidado com os espelhos!

   Mudaria de escola aquele ano, então foi com sua mãe a várias escolas diferentes. Chovia aquela tarde, não era forte, mas garoava o suficiente para formar poças em qualquer tipo de chão em qualquer lugar.
   Aquela escola era diferente. Mais conservadora, de freiras. O uniforme parecia normal, igual o das outras escolas, mas a educação era diferente. Enquanto juntas exploravam o pátio procurando a secretaria ou algum lugar para obter informação, viam que haviam várias escadas que desciam para outros pátios e lá era um lugar alto, de onde se podia ver o resto da cidade, e um pouco mais além. Eram três prédios de salas de aula, ao total. Altos (para um colégio), com mais de cinco andares cada um. Todo o colégio era marrom e bege no interior. Corrimões eram as únicas coisas brancas e podia-se ver que era tudo muito antigo, com pelo menos 60 anos, pelo estilo da decoração interna e externa.
   Mesmo sendo dia, o espaço por dentro dos portões de entrada era muito sombrio. A sensação de estar sendo observada era constante, mas ela achou que era por estar fazendo uma visita em um dia de aula normal.
   – Eu vou à secretaria. É logo ali, não sei como não vimos antes... Mas se você não quiser ir, pode passear pelo pátio enquanto eu resolvo lá as coisas. – disse a mãe.
   – É... Eu não estou com vontade de ir mesmo... Vou explorar. – disse a menina, sorrindo.
   Ficou parada vendo enquanto a mãe se afastava, andando no chão encharcado em direção a uma porta aberta em um dos prédios. Assim que ela entrou, a menina desviou o olhar para cima, para as árvores altas e o topo dos prédios.
   Garoava lentamente, e as minúsculas gotas caíam em seu rosto pálido pelo frio. Começou a andar e olhar qualquer coisa que a distraísse. Quando percebeu, já estava subindo escadas de um dos prédios. Devia ser um dedicado aos pequenos, menores de oito ou dez anos, mas estava completamente vazio, sem alunos e professores, nem inspetores ou nada do tipo. Entrou em uma sala, com mesinhas pequenas e desenhos de animais colados nas paredes, frutas, letras, e tudo típico de um jardim de infância. Ela olhava e lembrava-se de quando era criança. De repente, ouviu um ruído vindo do corredor, um passo no assoalho de madeira escura, ou um peso sobre ele. Olhou para o corredor, e não viu nada. Entrou em outra sala, e ainda nada. Resolveu descer as escadas para ir ver se tinha alguma coisa ou alguém no andar de baixo, afinal não tinha mais como subir. No fim da escada estavam sentados jovens um pouco mais velhos do que ela, eram eles 4 garotos e uma garota. Viram na e começaram a conversar.
   Perguntaram onde ela estudava, onde morava, se iria estudar lá e coisas desse tipo. Foram mudando de assunto conforme falavam daquele colégio, até que chegaram a historia de que aquela escola abrigava espíritos, e que aquela tarde era perfeita para fazer uma “caça” a eles. Então começaram subindo novamente, dessa vez até outra sala que estava trancada. Quando a abriram, ela pôde ver que não haviam janelas, somente uma porta, e as paredes estavam cobertas de espelhos, e algumas cadeiras desorganizadas no centro de um tapete.      
   Um dos garotos então pegou uma cadeira e colocou atrás da porta para que ninguém conseguisse abri-la. Enquanto ele colocava mais uma no meio do tapete, os outros garotos viravam as outras de cabeça para baixo. O grupo sentou-se atrás da cadeira, no chão, e ficaram esperando que a menina sentasse na frente.
   – Mas eu não posso sentar na cadeira? – perguntou ela, não sabendo realmente o que fazer.
   – Não, você deve sentar-se no chão, na frente dela. – disse a outra garota.
   – Mas como funciona? Pra que serve isso?
   – Não faça perguntas. Se quiser participar, então faça o que nós mandarmos.
   Ela sentou-se no chão, não entendendo ainda o porquê de tudo aquilo.
   – Ah, esqueci o seu espelho. – disse um dos garotos, e levantou para colocar um espelho refletindo dos ombros para baixo da menina e apoiado na cadeira.
   – Podemos começar. – disse a garota, dando as mãos ao rapaz ao seu lado.
   Disseram palavras, entoando alguma coisa, chamando. A menina não tirava os olhos do espelho a sua frente e olhava para os outros nas paredes, e as luzes piscavam. Olhou novamente para o seu, e não via mais o seu próprio reflexo, e sim pés com sangue, mas como se a pessoa que os possuísse estivesse levitando. Podia-se ver uma barra de vestido branco, sujo e velho. Pingavam no tapete, mas apenas no reflexo.
   – Meu Deus! Dêem uma olhada nisso, vocês têm que ver! São... São pés! E pinga muito sangue, escorre... Por que eu não estou nesse reflexo? Como é isso? – gritava a menina, assustada.
   – Funcionou?! – disse um dos rapazes, espantado. – Não acredito! Funcionou mesmo? É a primeira vez que realmente conseguimos alguma coisa!

   – Vocês tinham me dito que já sabiam, que... Que já tinham visto! Não acredito que fui uma experiência! – neste momento, não era só ela quem estava assustada e quase surtando de medo, mas sim todos naquele cômodo.
   Num momento de silêncio deles, ouviram o gemido da coisa de dentro do espelho. Assim que trocaram olhares de medo, a garota do grupo foi a primeira a se levantar e falar, quase chorando:
   – Derrube esse espelho, quebre-o! Eu não quero mais saber dessas coisas toscas! Abram logo essa porta e me deixem sair! Rápido!
   Um dos rapazes puxou a cadeira para trás e o espelho caiu. A menina levantou-se , assim como os outros rapazes, e eles abriram a porta, saíram rápido e trancaram a sala.
   – Nunca mais volto aqui para isso! – gritou a garota, e desceu correndo as escadas. Os garotos foram atrás, e a menina ficou no topo com medo de descer. Respirou fundo e desceu o primeiro degrau. O segundo, e assim foi, a escadaria era grande até o térreo.    
   Lembrou do medo, e assim tomou coragem – queria encontrar sua mãe para sentir segurança – e desceu rapidamente as escadas. Descia rápido. Mas foi necessário somente um passo em falso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário